11 maio 2016

O homem psicológico maduro I - Joanna de Angelis


O ser humano é o mais alto e nobre investimento da vida, momento grandioso do processo evolutivo que, para atingir a sua culminância, atravessa diferentes fases que lhe permitem a estruturação psicológico, seu amadurecimento, sua individuação, conforme Jung.
Ao atingir a idade adulta deve estar em condições de viver as suas responsabilidades e os desafios existenciais. É comum, no entanto, perceber-se que o desenvolvimento fisiológico raramente faz-se acompanhar do seu correspondente emocional, o que se transforma em conflito, quando um aspecto não é identificado com o outro. Em tal caso, o período infantil alonga-se e predomina, fazendo-se característica de uma personalidade instável, atormentada, insegura, depressiva ou agressiva, ocultando-se sob vários mecanismos perturbadores.
O seu processo de amadurecimento psicológico, portanto, pode ser comparado a uma larga gestação, cujo parto doloroso propicia especial plenificação.
Procedente de atavismos agressivos, imantado ainda aos instintos, o ser cresce sob pressões que lhe despertam a necessidade de desabrochar os valores adormecidos, qual semente que se intumesce sob as cargas esmagadoras do solo, a fim de libertar o vegetal embrionário, que se agigantará através do tempo.
Fatores compressivos e difíceis de liberados, pelos processos castradores do ambiente, quase sempre contribuem para que se prolongue a sua imaturidade psicológica.
Do ponto de vista tradicional, apresentam-se os fatores hereditários, psicossociais, econômicos, que colaboram positiva ou negativamente para o desenvolvimento psicológico, quase sempre contribuindo para a preservação do estado de imaturidade.
Graças à sua constituição emocional e orgânica, na vida infantil o ser é egocêntrico, qual animal que não discerne, acreditando que tudo gira em torno do seu universo, tornando-se, em conseqüência, impiedoso, por ser destituído de afetividade ainda não desenvolvida, que o propele à liberdade excessiva e aos estados caprichosos de comportamento.
Passado esse primeiro período, faz-se ególatra, acumulando tudo e apenas pensando em si, em fatigante esforço de completar-se, isolando-se socialmente dos demais ou considerando as outras pessoas como descartáveis, cujo valor acaba quando desaparece a utilidade, de imediato ignorando-as, desprezando-as...
Em sucessão, apresenta-se introvertido, egoísta, possuindo sem repartir, detentor de coisas, não de paz pessoal.
A imaturidade expressa-se através da preservação dos conflitos, graças aos quais muda de comportamento sem liberar-se da injunção causal, que são a frustração, o desconforto moral, a presença da infância. E mesmo quando se apresenta completado, as suas reações prosseguem infantis, destituídas de sensibilidade, no tormento de metas sem significado.
Para ele, o sentido da vida permanece adstrito ao círculo estreito da aquisição de coisas e à sujeição de outras pessoas aos seus caprichos. Torna-se ditador impiedoso, sicário implacável, juiz cruel. Proporciona-lhe prazer mórbido a dependência das massas e dos indivíduos particularmente, fruindo, de maneira masoquista, do prazer na dor própria ou alheia, desenvolvendo a degenerescência afetiva até o naufrágio fatal...
Certamente, fatores genéticos contribuem para o desenvolvimento ou não da maturidade psicológica, em se considerando as cargas hereditárias na constituição orgânica, na câmara cerebral, na aparelhagem nervosa e glandular, especialmente nas de secreção endócrina, na constituição do sexo.
Todavia, não podemos ignorar a preponderância do modelo organizador biológico (MOB) ou perispírito, responsável pela harmonização dos implementos de que o Espírito se irá utilizar para o seu processo evolutivo no corpo transitório.
Face a isso, cada pessoa é a soma das suas experiências transatas, e sua mente é o veículo formador de quanto se lhe torna necessário para o processo iluminativo.
Essa percepção, o entendimento desse fator, faz-se relevante em qualquer proposta de psicologia transpessoal, no estudo das causalidades de todos os fenômenos humanos.
Os velhos paradigmas e modelos sobre o homem cedem passo à introdução do conceito do ser ancestral, com toda a historiografia das suas reencarnações, que se tornam responsáveis pelo desenvolvimento do eu profundo.
A enunciada cisão entre o eu e o si, atávica, desaparece quando a análise do perispírito demonstra que a personalidade resulta da experiência de cada etapa, mas a individualidade é a soma de todas as realizações nas sucessivas reencarnações.
Graças a esses fenômenos, as pressões psicossociais — ambiente, educação, lutas e atividades — aparecem contribuindo, de uma ou de outra forma, para a realização das metas ou reparação delas, em razão dos processos de mérito ou débito de que cada um se faz portador.
Todos nascem ou renascem nos núcleos familiares e sociais de que necessitam para aprimorar-se, e não conforme se assevera tradicionalmente: que merecem.
As cargas de genes e cromossomas, as condições psicossociais e econômicas, formam o quadro dos processos de burilamento moral-espiritual, resultantes da reencarnação caldeadora dos dispositivos individuais para a evolução.
Tal razão prepondera na elucidação das diferenças psicológicas dos indivíduos, mesmo entre os gêmeos uniovulados, defluentes das conquistas anteriores.
A maturidade psicológica tem um curso acidentado, feito de sucessos e repetições, por formar um quadro muito complexo na individualidade humana.
A sua primeira fase expressa-se como maturidade afetiva, quando o ser deixa de ser captativo por fenômeno atávico, para tornar-se ablativo, que é a fatalidade do processo no qual se encontra.
Da posição receptiva egoísta, profundamente perturbadora, surge a necessidade de crescer e ampliar o círculo de amigos, na sua condição de animal gregário, surgindo as primeiras expressões do amor.
Expande o sentimento afetivo e compreende que o narcisismo e o egoísmo somente conduzem à auto-destruição, à perturbação.
Continuará...


06 maio 2016

Desapego - Pai João de Aruanda



Somos como as folhas de uma grande árvore. Quando o vento passa, nos leva para onde a força da vida indicar.
Todos são Espíritos.
Todos são imortais.
Nós não temos cor, não temos raça nem bandeira que limite a nossa ação. 
Às vezes é preciso que o vento nos leve até determinado lugar para aí desempenharmos uma tarefa. A gente se esconde num corpo quente num coração amoroso e então renasce vestido de carne, com roupa branca ou preta, ou amarela; bonita ou feia. Quando chega a hora e o vento sopra novamente, partimos, deixamos a roupa usada e rumamos para onde a vida nos conduzir, para viver outra experiência. Por isso é que devemos nos desapegar das coisas do mundo, mesmo daquelas que são boas. Estamos de passagem. Somos todos peregrinos, romeiros da vida. 
Em nossa viagem pelo mundo só possuímos, na verdade, aquilo que doamos, que oferecemos à vida: o amor, as virtudes, o bom caráter. As outras coisas são muletas que usamos para ajudar na caminhada; assim que aprendermos a andar direito, com a cabeça erguida diante da vida, deixaremos tudo de lado para partir para um novo aprendizado. É preciso se desapegar do mundo. Usar as coisas que estão nele sem se submeter a elas.
Essa, a verdadeira essência da vida. Pense nisso, meu filho.


04 maio 2016

Mãos à obra - Emannuel


Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.”
Paulo (I Coríntios, 14:26)



A igreja de Corinto lutava com certas dificuldades mais fortes, quando Paulo lhe escreveu a observação aqui transcrita.
O conteúdo da carta apreciava diversos problemas espirituais dos companheiros do Peloponeso, mas podemos insular o versículo e aplicálo a certas situações dos novos agrupamentos cristãos, formados no ambiente do Espiritismo, na revivescência do Evangelho.
Quase sempre notamos intensa preocupação nos trabalhadores, por novidades em fenomenologia e revelação.
Alguns núcleos costumam paralisar atividades quando não dispõem de médiuns adestrados.
Por quê?
Médium algum solucionará, em definitivo, o problema fundamental da iluminação dos companheiros.
Nossa tarefa espiritual seria absurda se estivesse circunscrita à freqüência mecânica de muitos, a um centro qualquer, simplesmente para assinalarem o esforço de alguns poucos.
Convençam-se os discípulos de que o trabalho e a realização pertencem a todos e que é imprescindível se movimente cada qual no serviço edificante que lhe compete. Ninguém alegue ausência de novidades, quando vultosas concessões da esfera superior aguardam a firme decisão do aprendiz de boavontade, no sentido de conhecer a vida e elevarse.
Quando vos reunirdes, lembrai a doutrina e a revelação, o poder de falar e de interpretar de que já sois detentores e colocai mãos à obra do bem e da luz, no aperfeiçoamento indispensável.