25 abril 2018

PROJEÇÃO PODEROSA - Miramez(João Nunes Maia)



Quando se inaugurou a razão no homem, este começou a dominar uma força poderosa. Primeiro, na sua inconsciência; depois, certificou-se de que a imaginação lhe emprestava uma grandiosidade ilimitada na face da Terra e além das fronteiras deste mundo. O início das projeções mentais era desordenado, sem que o aparelho da mente pudesse obedecer à lâmpada interior que acendia e apagava, como que pedindo socorro no florescer de uma vida nova. Milhares de anos se passaram e esse impulso, de dentro para fora, tomou sequência, de modo a se organizar e a se expandir, pelas forças dos sentimentos.
Eis as linhas do pensamento, na sua propiciadora evolução, a maior força no tempo e junto ao tempo, que a alma domina e projeta em todas as direções, que o espírito superior usa na construção da felicidade, na edificação do amor e na difusão da verdade. E a alma inferior se apodera dele, fazendo guerras, matando, destruindo e ateando calamidades por onde transita.
Todos nós, que viajamos na Terra, pertencemos à escola do Cristo, que objetiva, em todos os seus programas, a educação da mente. O Evangelho constitui normas para que os nossos pensamentos sejam disciplinados, fortalecidos, no sentido de atingir a plenitude dos santos e a tranquilidade dos místicos. O que chamais de decadência doutrinária e moral da humanidade, nada mais é do que curva evolutiva assinaladora dos fins dos tempos, em que vigora a ignorância. Na verdade, nada decai.
O progresso é lei suprema estatuída por mãos infalíveis. A aparência de colapso no Cristianismo, no tocante à mutilação dos seus mais profundos ensinamentos, depois do segundo milênio da sua expansão profética e profícua, não foi maldade dos homens, e sim, ignorância, filha da imaturidade. Tudo isso foi antevisto pelo Divino Senhor, quando assegurou que enviaria outro Consolador para que ficasse eternamente conosco - O Espírito da Verdade - propiciando-nos o consolo, a assistência, a caridade, nos encaminhando como se fôssemos crianças, sem a visão necessária para a viagem evolutiva.
Foi depois de Jesus Cristo que a razão tomou dimensões inigualáveis. O espírito imortal começou a usar a poderosa força da mente na cocriação, e as escolas iniciáticas abriram as portas, por não se sentirem suficientes na igualdade com o Mestre, que falava à coletividade sem o entrave das escolas, de partidos e de castas, usando a natureza como templo, o céu como desenho emblemático, e as aves, animais e plantas como companhias que Lhe pudessem dar e receber o que de mais sagrado tinha para ser entregue à Terra: a Boa Nova do Reino. Aí começou a projeção poderosa do Verbo Divino que se fez carne, andando com os homens, sem que estivesse na faixa deles. Reuniu os discípulos e, na casa do pescador, abriu a primeira escola da mente, dando ensejo àqueles homens de educar seus pensamentos e projetá-los nas órbitas individuais de cada ser que sofres-se dramas íntimos, que fosse castigado pelas provações dolorosas, que chorasse e pedisse consolo. E essa escola vigora até hoje na sua extensão infinita, ganhando terreno em todos os rumos do saber. O Evangelho, nos dias que correm, valoriza-se cada vez mais, por ser a maior esperança da humanidade, o conglomerado mais perfeito das leis de Deus.
Se quereis saber, o Evangelho é o céu na Terra. É a porta pela qual poderemos entrar para o reino de Deus. Parece-nos que o fanatismo empanou o brilho do Cristianismo no mundo, mas, na verdade vos dizemos, que isso ficou somente nas aparências. O fanatismo religioso, materialista ou científico, é um estágio de ascensão de que carece a própria humanidade, no avanço para a verdade. Nada se perde, na preciosidade do tempo e do espaço infinito. Tudo avança, por leis irremovíveis do Criador.
E agora é que os homens, ou pelo menos alguns deles, estão compreendendo o tesouro que tem nas mãos, do qual depende a sua felicidade: a projeção poderosa da mente, educada no serviço do amor - o céu no coração e a luz de Deus na consciência.




24 abril 2018

HOMOSSEXUALISMO - Ramatís(Hercílio Maes)


PERGUNTA: — A tendência de buscar uma comunhão afetiva com outra criatura do mesmo sexo, conhecida por homossexualidade, implica em conduta culposa perante as leis Espirituais?
RAMATÍS: — Considerando-se que o "reino de Deus" está também no homem, e que ele foi feito à imagem de Deus, evidentemente, o pecado, o mal, o crime e o vício são censuráveis, quando praticados após o espírito humano alcançar frequências muito superiores ao estágio de infantilidade. Os aprendizados vividos que promovem o animal a homem e o homem a anjo, são ensinamentos aplicáveis a todos os seres. A virtude, portanto, é a prática daquilo que beneficia o sei; nos degraus da imensa escala evolutiva. O pecado, a culpa, são justamente, o ônus proveniente de a criatura ainda praticar ou cultuar o que já lhe foi lícito usar e serviu para um determinado momento de sua evolução.
A homossexualidade, portanto, de modo algum pode ofender as leis espirituais, porquanto, em nada, a atividade humana fere os mestres espirituais, assim como a estultícia do aluno primário não pode causar ressentimentos no professor ciente das atitudes próprias dos alunos imaturos. Pecados e virtudes em nada ofendem ou louvam o Senhor, porém, definem o que é "melhor" ou pior para o próprio ser, buscando a sua felicidade, ainda que por caminhos intrincados dos mundos materiais, sem estabilidade angélica. A homossexualidade não é uma conduta dolosa perante a moral maior, mas diante da falsa moral humana, porque, os legisladores, psicólogos, e mesmo cientistas do mundo, ainda não puderam definir o problema complexo dos motivos da homossexualidade, entretanto, muitos o consideram mais de ordem moral do que técnica, científica, genética ou endócrina.

PERGUNTA: — Mas o que realmente explica o fenômeno da homossexualidade?
RAMATÍS: — É assunto que não se soluciona sobre as bases científicas materialistas, porque, só podereis entendê-lo e explicá-lo, dentro dos princípios da reencarnação. Evidentemente, não se pode esclarecer o motivo da homossexualidade, quando explicado exclusivamente pela maioria do mundo heterossexual, tal qual não pode explicar certos estados sublimes ou depressivos dos humanos quem não tenha vivido o mesmo fenômeno.
Não bastam conclusões simplistas, pesquisas psicológicas e indagações  científicas mundanas para explicar com êxito as causas responsáveis pelo homossexualismo. É um problema que se torna mais evidente com o aumento demográfico da humanidade e, também, das novas concepções do viver humano, como libertação de "tabus" e a busca da autenticidade na vida e seus propósitos. Crescem os grupos, comunidades e, até instituições homossexuais, no afã de solverem os problemas angustiosos ou os motivos das incoerências apontadas pelos contumazes julgadores do próximo, mas, incapazes de julgarem-se a si mesmos. Milhões de homens e mulheres são portadores dessa anomalia, e requerem a atenção e o estudo cuidadoso de suas reações e comportamento, não meramente que os julguem censuráveis à luz dos princípios e costumes morais da civilização retrógrada e mistificadora.

PERGUNTA: — Sob a opinião vigente, parece tratar-se de um fenômeno anormal. Que dizeis?
RAMATÍS: — Tal afirmação é verdadeira quando interpretada estatisticamente, por ser a maioria significativa das pessoas heterossexuais, porém, ao interpretarmos sob o prisma das leis da evolução espiritual, o problema não pode ser solucionado de forma geral, pois, é peculiar a cada individualidade, em sua luta redentora anímica. No decorrer do tempo, a humanidade terrícola há de compreender melhor os conceitos de normalidade e anormalidade, verificando não se ajustarem de maneira coerente, ao tratar-se simplesmente de gestos, condutas externas, incapazes de mostrarem o íntimo das almas. O próprio corpo carnal traz, às vezes, alguns traços da anormalidade ou normalidade do espírito, porquanto, é, tão somente, o agente de manifestações configuradas na herança biológica, determinada pela hereditariedade espiritual.
O problema, é realmente, de afinidades eletivas no campo da espiritualidade, porquanto, homem e mulher carnais são, apenas, expressões da mesma essência espiritual, diferenciada pela maior ou menor passividade, atividade, sentimento e razão. Através de milênios, o espírito ora encarna-se num organismo feminino, ora masculino, despertando, desenvolvendo e aprimorando as qualidades inerentes e necessárias das expressões sexuais. O homem e a mulher têm, simultaneamente, predicados algo femininos ou masculinos, que se acentuam dando características peculiares em cada reencarnação, sem que isso possa definir uma separação absoluta, capaz de classificar como anomalias os reflexos femininos na entidade masculina e vice-versa.
PERGUNTA: — Afirmam alguns estudiosos dos problemas de homossexualidade que se trata de consequência glandular. Que dizeis?
RAMATÍS: — São palpites e confundem o "efeito" com a "causa", porquanto, as alterações endócrinas, apenas, ativam ou reduzem o metabolismo glandular, resultante da tensão psíquica intensa ou reduzida sobre as estruturas cerebrais, entre elas o hipotálamo e o eixo hipotalâmico, com a ação reflexiva sobre a hipófise, a qual ativa as demais glândulas endócrinas.

PERGUNTA: — Poderíeis explicar-nos, de modo mais compreensível para nós, as particularidades desse assunto?
RAMATÍS: — O espírito que, por exemplo, numa dezena de encarnações nasceu sempre mulher, a fim de desenvolver sentimentos numa sequencia de vidas passivas na atividade doméstica, mas, por força evolutiva, precisa desenvolver o intelecto, a razão, atitudes de liderança e criatividade mental enverga um organismo masculino e, consequentemente, os caracteres sexuais de homem; entretanto, ele revive do perispírito suas reminiscências de natureza feminina. Depois de várias encarnações femininas e, subitamente, renascendo para uma existência masculina, raramente, predominam, no primeiro ensaio biológico, os valores masculinos recém-despertos, porque sente, fortemente, as lembranças psíquicas ou o condicionamento orgânico feminino. Em consequência, renasce e se desenvolve, no ambiente físico terreno, uma entidade com todas as características sexuais masculinas e, contudo, apresentando um comportamento predominantemente feminino. Assim, eclode a luta psicofísica na intimidade do ser, em que os antecedentes femininos conflitam com as características masculinas, ocasionando conflito dos valores afetivos, que oscilam, indeterminadamente, entre a atração feminina ou masculina. É o homossexual indefinido quanto à sua afeição, pelas exigências conservadoras e tradicionais da sua comunidade, para a qual ele é um "homem" anátomo-fisiologicamente, mas, no âmago da alma, tem sentimentos e emoções de mulher, recém-ingressa no casulo orgânico masculino. Apresentando todas as características da biologia humana do tipo masculino é, no campo de sua afeição e emotividade, uma criatura afeminada, malgrado os exames bioquímicos feitos serem característicos do sexo masculino.

PERGUNTA: — Poderíamos supor que tal fenômeno pode acontecer, também, num sentido inverso, quando o espírito demasiadamente masculinizado em vidas anteriores, traz essas características ao renascer mulher?
RAMATÍS: — No caso, ocorre o mesmo processo ventilado. O Espírito que viveu uma dezena de existências masculinas, situado em atividades extra lar, desenvolvendo, mais propriamente, os princípios ativos, o intelecto, a razão e a iniciativa criadora, mais comandando e menos obedecendo, mais impondo e menos acatando, desenvolve uma individualidade algo prepotente e, às vezes, tirânica. Obviamente, ele precisa modificar o seu psiquismo agressivo ou violento pelas constantes atividades de lutador, guerreiro, onde a razão não permite qualquer prurido sentimental e, reconhecendo a necessidade de desenvolver o sentimento, é aconselhado a envergar um organismo carnal feminino, em algumas reencarnações reeducadoras. Nesse caso, é muito difícil expressar, de início, as características delicadas, temas e gentis da mulher. A tensão perispiritual despótica, impulsiva e demasiadamente racional atua fortemente no novo corpo projetado para o sexo feminino e, por repercussão extracorpórea, ativa em demasia o cérebro, predispondo à ação da masculinidade sobre as características delicadas feminis. Daí, a conceituação da "mulher-macho", com a voz, gestos e decisões que lembram mais o homem.
Não se pode comprovar serem essas características provenientes de alguma alteração genética; realmente, imprimem na criatura a característica psicológica do sexo, a qual se sobrepõe à fisiologia e singeleza dos órgãos reprodutores. Sexo masculino é atividade mental, sexo feminino é atividade sentimental, enquanto, a diferença orgânica entre o homem e a mulher é apenas resultante das irradiações eletromagnéticas do perispírito na vida física. Em verdade, importa fundamentalmente ao espírito imortal desenvolver a razão para melhor compreender e agir no mundo e, simultaneamente, o sentimento para sentir o ambiente e, aí, efetuar realizações criadoras. Daí, o motivo por que a angelologia faz da figura do anjo um ser duplamente alado, cuja asa direita simboliza a razão e a esquerda o sentimento, comprovando a necessidade de o espírito humano só se liberar para o trânsito definitivo ao universo divino, em sua ascese espiritual, depois da completa evolução da razão e do sentimento.
É do conhecimento espiritual que, no desenvolvimento da individualidade do espírito eterno, a passagem da experiência feminina para a masculina ou vice-versa, no renascimento num corpo físico com certa marca sexual, de início predominam sempre os traços da feminilidade ou da masculinidade anterior, malgrado as diferenças da figura sexual do corpo.
No incessante intercâmbio do espírito, manifestando-se ora pela organização carnal feminina, ora pela masculina, ele desperta valores novos comuns a determinada experiência humana como homem, ou como mulher. Ademais, nesse renascimento através do binômio homem-mulher, além do desenvolvimento do intelecto ou da razão, conforme o estágio masculino ou feminino, corrige e salda os débitos dos abusos pecaminosos desta ou daquela condição, feminina ou masculina.
Insistimos em dizer-vos: o homem que abusa de suas faculdades sexuais no excesso da lascívia e somente para a satisfação erótica, culminando por arruinar a vivência de outras pessoas, chegando a ocasionar desuniões conjugais, provocar a discórdia, a aflição e o desespero e desonras em lares diversos, ou lançando na vida a infeliz moça com o filho no desamparo de mãe-solteira, ou que descamba por desespero e fraqueza na prostituição, há de corrigir-se do seu desregramento pelo renascimento físico num corpo feminino e, sob a coação doméstica do esposo tirânico, resgatar e indenizar todos os males produzidos ao próximo.
Igualmente, a mulher que não cultiva os valores sadios da função digna e amorosa de esposa, poderia sofrer nova encarnação feminina dolorosa, ou terá de se reajustar, na condição física, num corpo masculino, capaz de lhe proporcionar todas as ilusões, descasos e fuga dos deveres conjugais com uma companheira tão fútil, pérfida e irresponsável quanto também foi no passado, saturando assim o desejo, em vez de sublimá-lo. Ambas as posições, feminina e masculina, no mundo físico, proporcionam ensejos válidos e simultaneamente corretivos para garantir ao espírito aflito pela redenção, alcançar, o mais breve possível, a frequência angélica, independente de sexo e estágios carcerários na carne.

PERGUNTA: — Afora os espíritas ou reencarnacionistas esclarecidos, é muito difícil encontrar-se mentalidades humanas crentes dessa possibilidade de o espírito renascer homem, ou de retornar como mulher. Talvez, exista nisso uma reação inconsciente do homem, ao se considerar frustrado ou ferido em sua masculinidade, pelo fato de poder vir a ser mulher, como um objeto de sensualidade passiva?
RAMATÍS: — Causa certa surpresa a descrença na possibilidade de o mesmo espírito de homem retomar à Terra na figura de mulher, quando a própria imprensa terrena é pródiga de notícias nas quais a intervenção cirúrgica e a terapêutica hormonal adequada transforma homens em mulheres, e vice-versa. Considerando-se que é bem mais difícil ao homem se transformar em mulher, depois de caracterizada a sua masculinidade na existência física, é bem mais fácil o espírito decidir-se pelo sexo, antes de renascer.

PERGUNTA: — Que dizeis desse estigma de homossexualidade, quando as opiniões se dividem, taxando tal fenômeno de imoral, e outros de enfermidade?
RAMATÍS: — Sob a égide da severa advertência do Cristo, em que "não julgueis para não serdes julgados", quem julgar a situação da criatura homossexual de modo anti-fratemo e mesmo insultuoso, não há dúvida de que. a Lei, em breve, há de situá-lo na mesma condição desairosa, na próxima encarnação, pois, também é de Lei "ser dado a cada um segundo a sua obra".
Considerando-se nada existir com propósito nocivo, fescenino, imoral ou anormal, as tendências homossexuais são resultantes da técnica da própria atividade do espírito imortal, através da matéria educativa. Elas situam o ser numa faixa de prova ou de novas experiências, para despertar-lhe e desenvolver-lhe novos ensinamentos sobre a finalidade gloriosa e a felicidade da individualidade eterna. Não se trata de um equívoco da criação, porquanto, não há erro nela, apenas experimento, obrigando a novas aquisições, melhores para as manifestações da vida.
Assim, o companheiro atribulado, ou de tendência homossexual, precisa mais do amparo educativo, da instrução espiritual correta referente ao entendimento dos acontecimentos reencarnatórios e da fenomenologia de provas cármicas. Os erros e acertos da alma, principalmente no campo do amor e do sexo, sejam quais forem as linhas de força dirigentes nessa ou naquela direção, são problemas que recebem a mesma análise e solução justa por parte da Lei, seja qual for a procedência, correta ou equivocada. São assuntos da consciência de todos os homens, pois, de acordo com a Justiça e a Sabedoria, quem ainda não passou por provas semelhantes e condena ou insulta o próximo há de enfrentá-las dia mais ou dia menos, a fim de sentir, na própria carne, não o erro do próximo, mas o remorso do mau julgamento espiritual.

PERGUNTA: — Que dizeis de a homossexualidade ser um acontecimento imoral?
RAMATÍS: — É de senso comum ser a moral humana produto das tradições, costumes, preconceitos, convenções sociais, as quais têm por objetivo a segurança, a sobrevivência e a proteção da sociedade. É enfim, parte da ética, que trata dos costumes, dos deveres e do modo de proceder dos homens para com os outros homens, segundo o senso de justiça e de equidade natural. No entanto, se deveres, obrigações e bons costumes definem a boa moral humana, verificamos que, acima da moral transitória e evolutiva das relações entre pessoas, existe a moral eterna, incluindo todos os seres do Universo, não apenas um povo, um planeta. Não é difícil observar que a mais avançada ou aparente sadia moral humana pode, muito bem, conflitar com os fundamentos preceituais da verdadeira moral e, consequentemente, nem sempre o que é moral aos homens, em certa cultura, seria em outra etnia e muito menos, para a moral universal.
Enquanto a moral humana é um recurso de equilíbrio, sobrevivência pacífica e disciplina entre os cidadãos, tendo por apanágio o acatamento às leis, costumes, preceitos sociais, respeito à propriedade alheia, vivência regrada sem licenciosidade pelos bons hábitos considerados os melhores no momento, a Moral Universal é fundamentada, exclusivamente, no Amor. Imoral, portanto, é todo cidadão encarnado que falta com o preceito fundamental da vida espiritual superior — o Amor. Se a homossexualidade é imoral, pelos conceitos passageiros da moral humana, também são imorais os cidadãos que julgam seus irmãos, incorrendo culposamente na falta de Amor.

PERGUNTA: — Há fundamento em que a homossexualidade é mais propriamente, fruto de enfermidade psíquica?
RAMATÍS: — Considerando-se ser o amor saúde espiritual e o ódio enfermidade, toda transgressão da Lei do amor pode ser enquadrada na terminologia patológica, ora de menos ou de mais gravidade, neste ou naquele setor. Embora saibamos ser a doença fruto fundamental do desequilíbrio físico, ou psíquico, ou de ambos, de qualquer forma, a enfermidade sempre decorre da negligência espiritual do homem para com as leis superiores no campo da virtude e do vício.
Assim, tanto pode ser apontada por enfermidade a tendência homossexual quanto a hipocrisia, a maledicência, a avareza, a inveja, a luxúria, a ira, a preguiça e a própria gula, assim classificadas pela espiritualidade. Em consequência, o problema da homossexualidade não é quanto à sua classificação legal ou científica, mas o de amparo afetuoso por todos, que e julgam sadios na sua heterossexualidade.

PERGUNTA: — E quanto a se enquadrar o homossexualismo na categoria de perversão?
RAMATÍS: — Caso o homossexualismo seja perversão passível de terapêutica ou de penas legais, cabe às leis da natureza a culpa fundamental disso, pelo fato de elas não saberem desenvolver as características específicas da personalidade, ditadas pelas influências do espírito humano, acostumado por um punhado de existências exclusivamente femininas ou masculinas. Na nova encarnação, pela ação da forte sexualidade do passado, essas influências modificam as reações psicológicas do espírito renascido mulher ou homem, contrariando as peculiaridades orgânicas. O homossexual pode ser fruto de dificuldades da técnica sideral em conseguir o psiquismo adequado ao organismo humano, em atenuar a feminilidade total em nova encarnação masculina, ou vice-versa; ou, é óbvio que também pode ser a prova cármica para quem, realmente, abusou de suas faculdades eróticas, ocasionando prejuízos a outros, no campo da própria sexualidade, com repercussões sociais. Ademais, em muitos casos, espíritos de liderança, cultos, hipersensíveis, virtuoses da música, gênios da pintura ou renomados escultores da matéria e da vivência espiritual, no intuito de concluir tarefas de elevação nos agrupamentos humanos e melhoria de si próprios, podem solicitar a mudança urgente da personalidade definida transitoriamente na carne, assumindo um organismo sexualmente oposto ao ultimamente habitual. Daí, a influência fortemente feminil na organização carnal de sexo masculino, ou a força dominante de masculinidade no arcabouço físico feminino, num visível desequilíbrio entre o psicológico e o orgânico.
Além disso, se o vosso orbe terrícola, planeta de evolução primária, lentamente se transformando para estados mais avançados, até atingir o objetivo de evolucionar para uma valiosa escola espiritual superior, fosse habitado exclusivamente por espíritos puros ou superiores, não existiriam problemas de "perversões" ou "prostituições", porquanto, tais problemas não são específicos de entidades malignas, porém, decorrentes da inferioridade e dos defeitos de todos os homens terrenos. Os próprios "marginais" e "delinquentes" terrenos são produtos indiretos da falta de assistência, educação, saúde, lar, carinho e amor da sociedade que se julga impoluta, quando é hipócrita e mistificadora. Para qualquer deslize, inversão sexual, delinquência, crime, pilhagem, subversão, vício ou perversão, culpa-se toda a humanidade, onde cada cidadão é responsável por determinada cota de negligência, egotismo, comodidade, bem-estar, prazer egocêntrico, pusilanimidade, especulação lucrativa extorsiva, fanatismo religioso, mentalidade obscena, fácil irascibilidade, adultério, avareza ou excesso de bens, roubados à maioria. Ainda nesse caso, tudo lembra a frase de Jesus: "Aquele que não tiver pecado, atire a primeira pedra". Em verdade, surgiu na Terra uma criatura absolutamente hígida em espírito, isenta de qualquer desequilíbrio emotivo ou criação mental negativa. Ele era harmônico e sadio quanto às suas emoções, justo e absolutamente amoroso em suas ações, irradiando bondade, perdão e amor e, acima de tudo, sem qualquer sombra de "perversão" ou "prostituição", pelo seu caráter ilibado e conduta honesta. Mas, os homens mesquinhos pregaram-no na cruz, por ser Jesus, o Cristo vivo, um látego da nova moral sobre os pretensos impolutos defensores e participantes da sociedade humana deteriorada.
Mesmo assim, traído, insultado, zombado, ferido e crucificado, Ele estendeu seu majestoso e sublime olhar à multidão acicatada pelas paixões inferiores e sua voz vibrou amorosamente para toda eternidade: "Pai, perdoai-os, porque eles não sabem o que fazem".

PERGUNTA: — Sob vossa opinião, é sempre censurável o fato de alguém condenar homossexuais?
RAMATÍS: — Sob qualquer conceituação que os julgardes, seja distúrbio endocrínico, enfermidade, perversão, prostituição ou vício, trata-se de almas companheiras de vossa jornada terrena, merecendo a compreensão, pois, talvez, ainda tereis de passar por semelhante problema, ou já o tivestes antes. Como não há privilégios, preferências religiosas ou injustiças da Lei, nenhum espírito ou filho de Deus passará incólume da animalidade para o estado humano, e de homem para anjo, sem passar por problemas, insuficiências, defeitos, pecados e vícios de toda a humanidade. Alhures, já vos dissemos que o próprio Jesus não evoluiu em "linha reta", porém, fez o curso integral da vida física como qualquer outro homem já o fez ou terá de fazê-lo. Distingue-se Jesus de Nazaré dos demais homens atuais porque, tendo alcançado o clímax de sua evolução planetária, sacrificado na cruz, e sepultado, ressuscitou pela emancipação espiritual na figura do "Irmão Maior" e é, na atualidade, o "Caminho, a Verdade e a Vida", pois, quem não praticar os seus ensinamentos, adquiridos em suas vidas, em incontáveis milênios de aperfeiçoamento, não alcançará o reino dos Céus.
Consequentemente, o principal problema não é de interpretação científica, patológica ou moral, no tocante aos portadores de homossexualidade, num julgamento simplista ou leviano, mas o de ajuda, compreensão e interesse de fazer ao irmão réprobo social o mesmo que desejaria a si mesmo, caso se defrontasse com semelhante problema. Ainda aqui, recomendamos o Cristo, na sua advertência incomum: "Vedes o argueiro no olho do vizinho, e não reconheceis a trave no vosso olho?"
Na verdade, a maioria das criaturas homossexuais não sabe bem o que lhes acontece e, assim, não pode ser culpada de uma situação cuja causa desconhece conscientemente. Daí, a necessidade de ajuda por outros que podem examinar, analisar e concluir de modo mais exato quanto às providencias favoráveis ou, pelo menos, maior compreensão e tolerância. O homossexual, em geral, é uma alma confusa, sujeita a impulsos ocultos, não tendo a percepção das causas ou dos motivos que o levam à erotização pelo mesmo sexo. É de conceito comum, mesmo entre as pessoas sem conhecimento psicológico, ser o sexo uma força poderosa e atuante no ser humano, capaz de conduzi-lo às piores perversões, delinquência e até crimes, pela satisfação animal imediata.
O desejo sexual pode cegar o homem mais culto, mais sábio e mesmo o líder religioso, o sacerdote impoluto, pois, a história é pródiga de exemplos de mentalidades de poderosa criatividade deixarem se dominar por ele e rebaixarem-se, até degradarem-se por uma paixão incomum, pela avidez da satisfação sexual. Entretanto, é doloroso notar serem tais desregramentos sexuais mais frequentes entre as criaturas heterossexuais, ou sejam, as que são julgadas normais e sadias. Portanto, como julgar a manifestação dessa energia poderosa canalizada para o homossexualismo, gerando contradições inexplicáveis? Logo, a mais correta e louvável atitude espiritual ainda é "ajudar" e não julgar as almas estigmatizadas socialmente pelos desvios da sexualidade.

PERGUNTA: — Considerando-se terem os heterossexuais uma opinião formada dos homossexuais, pelo direito peculiar às criaturas humanas de pensar, qual deveria ser a opinião deles a esse respeito?
RAMATÍS: — Embora considerando existir em, realmente, homossexuais cuja alma de mau caráter os leva a uma perversão na prática sexual, alguns de repulsivo cinismo e ostensivamente obscenos, a maioria dos homossexuais, geralmente, é de almas afetivas e gentis, espíritos simpáticos à arte, à música e à literatura romântica, porque dispõem de grande capacidade artística e estética, eletivos à harmonia, dotados de forte amor humano, quase sempre buscando realizações filantrópicas e serviços de benefício ao próximo e à humanidade. Os homossexuais masculinos trazem a sensibilidade feminina, de gentileza, candura e afetividade, e as mulheres, traços de masculinidade; às vezes, o despotismo, a agressividade, a rigidez e o gosto por trabalhos e esportes mais próprios do homem.
Aliás, as estatísticas do mundo demonstram que o índice de criminalidade entre os homossexuais é muito reduzido, talvez, porque são mais tolerantes e pouco inclinados à violência física, afora alguns casos excepcionais, quando há violência e conflitos, comuns também entre os heterossexuais. O mundo dos homossexuais é algo tranquilo, e sua maior conturbação é resultado das frustrações de relacionamento humano. Mas o homossexual não pode ser considerado um delinquente, um excluído social, porque exerce um trabalho, é capaz de amar, de servir, integrando-se à comunidade. Sem dúvida, há espanto, preconceito e opróbrio por parte dos heterossexuais, ante a sua impossibilidade de compreender a capacidade ou a desventura de uma pessoa amar outra do seu próprio sexo. No entanto, aqueles que entendem e reconhecem as minúcias do mecanismo e da motivação reencarnatória entendem, facilmente, que o afeto espiritual transcende as transitórias formas das personalidades físicas, embora, o acontecimento incomum de um ser amar o outro do mesmo sexo possa provocar estranheza e até repugnância.

PERGUNTA: — Se vos fosse razoável emitir uma conceituação generalizada sobre a diferença da criatura homossexual e a heterossexual, qual seria a vossa conclusão?
RAMATIS: — Demonstramos serem as diferenças da atividade sexual resultado das necessidades reencarnatórias de cada espírito e, portanto não nos cabe criticar, estigmatizar, porém, simplesmente, tolerar, ajudar e ver, em cada pessoa, um irmão, o que realmente somos diante da natureza.

PERGUNTA: — Tratando-se a homossexualidade de uma perturbação `psicofísica", quando a psique feminina se manifesta numa organização masculina, ou vice-versa, não produzindo deterioração da mente, ou mesmo do equilíbrio mental, é evidente que o homossexual pode enriquecer os setores culturais, artísticos, científicos do mundo como qualquer outro heterossexual?
RAMATIS: — Ademais, não existe uma linha definida, categórica, separando nitidamente o caráter homossexual do heterossexual, a não ser quanto à erotização; e, muitas criaturas convencidas de sua heterossexualidade absoluta mostram reações, emoções e atos identificados como traços de homossexualismo. Aliás, há mesmo a crença de que em cada homem há um pouco de feminilidade e, em cada mulher um pouco de masculinidade, mostrando as necessidades evolutivas da alma, no cultivo da razão e do sentimento.

Obviamente, o senso artístico, desde a poesia, a pintura, a música e a literatura tem recebido notável contribuição de inúmeros homossexuais. Quando puderam extravasar sua sensibilidade através das letras, da rima, dos sons e das tintas, equilibraram grande parte do seu drama interior, gerado pela oscilante personalidade indefinida organicamente. O certo é que as leis delinearam o homem e a mulher, proporcionando-lhes uma gama de estados espirituais, partindo dos assexuais, passando pelo hermafrodita, até a heterossexualidade, os quais são úteis ao desenvolvimento de sentimentos e de intelectualidade, estágios esses que não devem estigmatizar, mas, liberar o ser.


Texto extraído do livro SOB A LUZ DO ESPIRITISMO,Hercílio Maes ditado pelo espírito Ramatís.

23 abril 2018

POMBAGIRA e a SEXUALIDADE - Pai Benedito de Aruanda (Rubens Saraceni)



A visão do Mistério Pombagira sobre a sexualidade é guiada pelo que vibra no íntimo dos seres.
Diferente do que muitos imaginam ou do que já falaram ou escreveram, ela não é a favor nem apoia a prostituição, e sim, é esgotadora das sexualidades degeneradas.
Seres cuja sexualidade é viciada ou vicioso são seus alvos prediletos porque, para ela, desvios sexuais devem ser esgotados do jeito que for possível e permitido pela Lei Maior.
O fato de algumas “Pombagiras de trabalhos” revelarem em suas biografias fatos escabrosos no campo da sexualidade, tais como abortos, prostituição, uso do sexo como instrumento de poder e dominação, viciações as mais variadas, e porque entraram em desequilíbrio com seus mistérios íntimos e regrediram consciencialmente, cometendo ações contrárias aos princípios da vida, regidos pelos mistérios do sentido da geração.
Mães que renegaram seus filhos, que abortaram, que maltrataram crianças na mais tenra idade, etc., porque estavam passando por profundos desequilíbrios, com certeza sofreram intensa atuação do Mistério Pombagira e passaram por intensivos esgotamentos dos seus estados de consciência em desequilíbrio antes de serem levadas até a dimensão de Pombagira onde, aí sim, são submetidas a um processo de imantação pelo Mistério das Pombagiras guardiãs que as recolheram em seus domínios e as prepararam para retomarem suas evoluções atuando a partir das suas linhas ou hierarquias à "esquerda", onde atuam daí em diante como refreadores desses tipos de desequilíbrio íntimo nos seres humanos.
Elas voltam, mas não para repetirem os mesmos procedimentos, e sim, para combatê-los ou evitarem que suas protegidas venham a cometê-los.
Para Pombagira, antes só que mal acompanhada, mal amada e mal servida por seus pares masculinos, isto para suas médiuns, certo?
Que o digam o grande número de mulheres umbandistas que demoram para casar-se ou que, quando mal casadas, se separam e levam suas vidas sozinhas devido à influência de suas Pombagiras, que nelas são ativas e não admitem que seus companheiros (namorados ou maridos) as traiam ou as maltratem... e muito menos que tenham outra e as tratem com desprezo. Assim como não admitem que suas médiuns assim procedam com seus pares.
Pombagira torna suas médiuns ciumentas e um tanto possessivas em relação aos seus pares, mas nunca estimula nelas o vício da traição matrimonial, preferindo que elas se separem, não adotando esse tipo de procedimento errôneo.
Para Pombagira, é melhor uma separação dolorida que a traição matrimonial. Assim como é melhor a dor da solidão que a amargura e as mágoas de um relacionamento íntimo sofrido ou insatisfatório.
Que o digam as médiuns umbandistas que, ou não conseguem um bom namorado ou um bom marido porque suas Pombagiras já conhecem de cor e salteado as consequências para suas evoluções espirituais que os relacionamentos íntimos instáveis, desequilibrados ou doentios já lhes causaram e não querem ver suas médiuns cometerem os mesmos erros e regredirem pelas dores de um mau relacionamento.
Que o digam elas, que muitas vezes são advertidas por suas Pombagiras que “fulano de tal” não serve para coisa alguma e só vai fazê-la sofrer.
Ao contrário do que possa parecer, Pombagira é seletiva e transmite essa sua seletividade as suas médiuns, muitas vezes privando-as de uma companhia masculina, mas livrando-as de dissabores doloridos.
“Antes só que mal acompanhada, mal amada e mal servida’ dizem elas. Infelicidade por infelicidade, melhor viver a própria que as alheias.
Ao contrario dos seres machos, que creem que seus pares femininos estão aí para servi-los, Pombagira crê que os seres machos só foram criados para servi-la.
A natureza intima de Pombagira é altiva e dominadora, possessiva e ciumenta, ainda que ela manifeste essas suas características a seu modo e use seus recursos e dotes para subjugar suas “presas ou seus servidores”.
Agora, para Pombagira, relacionamento intimo recomendável é aquele que não implica sofrimento, mágoas e ressentimentos a nenhum dos envolvidos nele, independentemente de seres casados ou não, e desde que lhes proporcione prazer e satisfação e não atentem contra os princípios da vida, gerando abortos ou infância desamparada.
Seus conceitos de “certo e errado” são diferentes dos da sociedade patriarcal e machista, pois em sua tela vibratória dos interiores refletem todas as vibrações intimas de insatisfação, de todos os tipos de insatisfação, certo?
§  Se urna crença religiosa não está satisfazendo a pessoas, que ela mude de religião.
§  Se urna profissão não está correspondendo às expectativas, que mude de profissão ou de local de trabalho.
§  Se um namoro não está trazendo satisfação, que mude de namorado(a).
§  Se um casamento não está sendo feliz, que haja a separação, e ponto final!
Essa é a personalidade e o arquétipo de Pombagira, que agrada a algumas pessoas e assusta a muitas.
Para Pombagira, altiva como só ela pode e consegue ser, ela e a mulher que toda mulher gostaria de ser e que todo homem gostaria de ter como a sua. Isso segundo ela, certo?
Aqui nos limitamos a descrever sua personalidade e sua natureza íntima e arquetípica!

 Texto extraído do livro ORIXÁ POMBAGIRA, Rubens Saraceni inspirado por Pai Benedito de Aruanda.


17 abril 2018

PENSAMENTOS FORMAS - Miramez


Há uma proposição que diz: "Toda forma é um conglomerado de coisas". É justamente o que queremos dizer. Os pensamentos são formas emblemáticas que transmitimos em muitas dimensões para as mentes da mesma sintonia, e os sentimentos que plasmamos neles são partes de nós, que ficam nos outros, sob a nossa responsabilidade.
Há momentos de fraqueza humana em que o pensamento alheio causa distúrbios inacreditáveis, dependendo do estado de alma de quem o recebe, como do influxo mental de quem o transmite. A realidade é que orar e vigiar, como nos propõe o Evangelho, na lavoura das ideias, é dever sagrado de cada dia. A agenda do cristão deve ter uma palavra com letras grandes: VIGILÂNCIA. As formas mentais têm uma força coesiva sem precedentes, maior que a liga de todas as colas e o traço de todos os cimentes.  Os espíritos de alta envergadura conhecem a ciência, de modo a desintegrar as formas mentais inferiores, aproveitando-as, como lixo mental, em adubos, ou analizando-as para animais da mesma faixa, que as transmutam em alimentos psíquicos, de certa forma, para eles, suculentos.
A estrutura congênita das ideias, quando se trata de alma evoluída é de máxima importância, pois é nessa oportunidade que ela começa a amar o próximo, inicia seu dia doando o que mais lhe toca o coração. É a verdadeira caridade espiritual, porque em uma corrente contínua de pensamentos se estende a mensagem da fraternidade, por não lhes dar o trabalho de limpeza psíquica. Se a humanidade soubesse o valor do pensamento positivo, entregar-se-ia à completa reforma, no tocante aos pensamentos. Se a humanidade fosse consciente da grandeza das emoções elevadas, transformaria o mundo dos sentimentos em fontes puras de amor.
As correntes mentais inferiores, intercruzando os espaços da Terra e se ajustando, por sintonia, com as pessoas, é que impulsionam os países às guerras, às calamidades, aos grandes desacertos financeiros. E essa troca de magnetismo decadente entre os homens proporciona as maiores promiscuidades, os desajustes dos lares, e os desleixes morais, por entorpecer as mentes e levá-las às mais baixas vibrações.
Os nossos pensamentos brotam do fulcro mental com uma ardência de vida sem paralelos na escala das emoções. Quando canalizados aos seus devidos fins, esvaziam o campo energético da alma, para depois serem reabastecidos pelos centros de força mais responsáveis pela consciência. Isso é um cinetismo indescritível do éter cósmico. E não sendo usado para a nobreza do caráter, o reator emotivo cria colisões nos campos de força, de maneira a demorar o próprio reabastecimento e adormecer, de certa forma, parte da consciência, que retarda o seu comando instintivo dos órgãos e deixa de fornecer a cota de energia protoplasmática ao sensível metabolismo celular.
O místico se embriaga nas suas sábias deduções, caindo em êxtase pelo prazer que lhe dão as formas mentais elaboradas em sua mente. Todavia, o espírito inferior sofre com as suas criações, que correspondem â sua própria inferioridade.
O Cristo, médico das almas, foi também o maior médico dos corpos. A especulação científica chegará algum dia à realidade do espírito, cinzelando os fatos com a oficialidade de que os pensamentos bons são capazes de restaurar os homens e as coisas danificadas, como torturar vidas e desagregar formas na ação magnética inferior. Poderemos ser médicos de nós mesmos, elaborar remédios, que nos possam curar. Isso depende da educação da mente.
A configuração das ideias obedece a um plano evolutivo por excelência e preestabelecido por esquema do Todo Poderoso. Entretanto, compete a nós outros uma intervenção, cuja altura devemos alcançar, de determinadas modificações no que concerne aos valores emotivos. Devemos plasmar, com os recursos a nós oferecidos no magnetismo estuante da mente, o amor mais puro, que se irradia em muitas formas de conceitos, porque ele, sendo vida maior, sustenta todas as vidas, em todos os reinos do alvorecer eterno.
Ao nosso pensamento é justo não faltar o traço que compete à elegância. Sejamos felizes, deixando o Cristo participar das nossas correntes mentais e entremos, com Ele, no reino de Deus.


16 abril 2018

A Grande Transição - Joanna de Ângelis



Opera-se, na Terra, neste largo período, a grande transição anunciada pelas Escrituras e confirmada pelo Espiritismo.
O planeta sofrido experimenta convulsões especiais, tanto na sua estrutura física e atmosférica, ajustando as suas diversas camadas tectônicas, quanto na sua constituição moral.
Isto porque, os espíritos que o habitam, ainda estagiando em faixas de inferioridade, estão sendo substituídos por outros mais elevados que o impulsionarão pelas trilhas do progresso moral, dando lugar a uma era nova de paz e de felicidade.
Os espíritos renitentes na perversidade, nos desmandos, na sensualidade e na vileza, estão sendo recambiados lentamente para mundos inferiores onde enfrentarão as consequências dos seus atos ignóbeis, assim renovando se e predispondo-se ao retorno planetário, quando recuperados e decididos ao cumprimento das leis de amor.
Por outro lado, aqueles que permaneceram nas regiões mais infelizes estão sendo trazidos à reencarnação, de modo a desfrutarem da oportunidade de trabalho e de aprendizado, modificando os hábitos desditosos a que se têm submetido, podendo avançar sob a governança de Deus. Caso se oponham às exigências da evolução, também sofrerão um tipo de expurgo temporário para regiões primárias entre raças atrasadas, tendo o ensejo de ser úteis e de sofrer os efeitos danosos da sua rebeldia.
Concomitantemente, espíritos nobres que conseguiram superar os impedimentos que os retinham na retaguarda, estarão chegando, a fim de promoverem o bem e alargarem os horizontes da felicidade humana, trabalhando infatigavelmente na reconstrução da sociedade então fiel aos desígnios divinos. Da mesma forma, missionários do amor e da caridade, procedentes de outras Esferas, estarão revestindo-se da indumentária carnal, para tornar esta fase de luta iluminativa mais amena, proporcionando condições dignificantes que estimulem ao avanço e à felicidade.
A melhor maneira, portanto, de compartilhar conscientemente da grande transição é através da consciência de responsabilidade pessoal, realizando as mudanças íntimas que se tornem próprias para a harmonia do conjunto.
Na mente do ser encontra-se a chave para que seja operada a grande mudança. Quando se tem domínio sobre ela, os pensamentos podem ser canalizados em sentido edificante, dando lugar a palavras corretas e a atos dignos.
O indivíduo que se renova moralmente, contribui de forma segura para as alterações que se vêm operando no planeta.
A vida sempre responde conforme as indagações morais que lhe são dirigidas.
A dor momentânea que o fere, convida-o, por outro lado, à observância das necessidades imperiosas de seguir a correnteza do amor no rumo do oceano da paz. Logo passado o período de aflição, chegará o da harmonia. Até lá, que todos os investimentos sejam de bondade e de ternura, de abnegação e de irrestrita confiança em Deus.


Texto extraído do livro JESUS E VIDA, do Espírito Joanna de Ângelis pelo médium Divaldo Franco

13 abril 2018

Jesus e os Desafios - Joanna de ângelis

O processo de evolução constitui para o Espírito um grande desafio.
Acostumado às vibrações mais fortes no campo dos sentidos físicos, somente quando a dor o visita é que ele começa a aspirar por impressões mais elevadas, nas quais encontre lenitivo, anelando por conquistas mais importantes.
Vivendo em luta constante contra os fatores constringentes do estágio em que se demora, vez por outra experimenta paz, que passa a querer em forma duradoura.
No começo, são as dores com intervalos de bem-estar que o assinalam, até conseguir a tranqüilidade com breves presenças do sofrimento, culminando com a plenitude sem aflição.
De degrau em degrau ascende, caindo para levantar-se, atraído pelo sublime tropismo do Amor.
Conseguir o estágio mais alto, significa-lhe triunfar.
*
Aturdido e inseguro, descobre uma conspiração quase geral contra o seu fatalismo. São as suas heranças passadas que agora ressurgem, procurando retê-lo na área estreita do imediatismo, em nível inferior de consciência, onde apenas se nutre, dorme e se reproduz, com indiferença pelas emoções do belo, do nobre, do sadio.
Anestesiado pelas necessidades vegetativas, busca apenas o gozo, que termina por causar-lhe saturação, passando a um estado de tédio que antecipa a necessidade premente de outros valores.
Lentamente desperta para realidades que antes não o sensibilizavam e, de repente, passam a significar-lhe meta a conseguir, sentindo-se estimulado a abandonar a inoperância.
O psiquismo divino, nele latente, responde ao apelo das forças superiores e desatrela-se do cárcere celular, qual antena que capta a emissão de mensagens alcançadas somente nas ondas em que sintoniza.
O primeiro desafio, o de penetrar emoções novas, o atrai, impelindo-o a tentames cada vez mais complexos, portanto, mais audaciosos.
Experimentando este prazer ético e estético, diferente da brutalidade do primarismo, acostuma-se com ele e esforça-se para novos cometimentos que, a partir de então, já não cessam, desde que, encerrado um ciclo, qual espiral infinita, outro prazer se abre atraente, parecendo-lhe cada vez mais fácil.
*
Tudo na vida são desafios às resistências.
A “lei de entropia” degrada a energia que tende à consumpção, para manter o equilíbrio térmico de todas as coisas.
O envelhecimento e a morte são fenômenos inevitáveis no cosmo biológico e no universo.
Os batimentos cardíacos são desafios à resistência do músculo que os experimenta; os peristálticos são teste constante para as fibras que os sofrem; a circulação do sangue é quesito essencial para a irrigação das células; a respiração constitui fator básico, sem o qual a vida perece. Tudo isso e muito mais, na área dos automatismos fisiológicos, a interferir nos de natureza psicológica.
É natural que o mesmo suceda no campo moral do ser, que nunca retrocede e não deve estacionar sob pretexto algum.
No progresso, a evolução é inevitável.
A felicidade é o ponto final.
*
Não cabe ao homem retroceder na luta, senão para reabastecer-se de forças e prosseguir nos embates.
O crescimento de qualquer ideal é resultado dos estágios inferiores vencidos, das etapas superadas, dos desafios enfrentados.
A sequóia culmina a altura e o volume máximos, célula a célula.
O universo se renova e prossegue, molécula a molécula.
Facilidade é perda de estímulo com prejuízo para a ação.
Toda a vida do Mestre foi um suceder incessante de desafios.
Embates no Seu meio social e familial constituíram-lhe os primeiros impedimentos, que foram ultrapassados, em razão da superior finalidade para a qual viera.
Ele não aceitou carregar o fardo do mundo em caráter de redenção dos outros, mas ensinou a cada um a conduzir o seu próprio compromisso em paz de consciência; não assumiu as tarefas alheias, nem deixou de demonstrar como fazê-las; no entanto, altaneiro, sem presunção, tampouco sem submissão covarde.
Os desafios da sociedade injusta e arbitrária chegaram-Lhe provocadores, mediante situações, pessoas e circunstâncias; apesar disso, sem deter-se, Ele continuou íntegro, enfrentando-os sem ira ou medo.
Passou aquele tempo; todavia, permanecem os resíduos doentios.
Alterou-se a paisagem, não os valores, que prosseguem relativamente os mesmos, gerando obstáculos e insatisfações.
Enfrenta os desafios da tua vida, serenamente.
Não aguardes comodidades que não mereces. Realiza a tua marcha, indômito, preservando os teus valores íntimos e aumentando-os na ação diária.
Quem teme a escuridão, perde-se na noite.
Sê tu aquele que acende a lâmpada e clareia as sombras.
Desafiado, Jesus venceu. Segue-O e nunca te detenhas ante os desafios para o teu crescimento espiritual.

Texto extraído do livro JESUS E ATUALIDADE, do Espírito Joanna de Ângelis pelo médium Divaldo Franco

04 abril 2018

Discriminação - Livro Samadhi, de Ramatis



Todos os outros protetores já haviam se desligado de seus médiuns, em razão do adiantado da hora. Além disso, não havia mais pessoas para serem atendidas. Fora uma noite igual a tantas outras, em que o salão se enchia de pessoas famintas, em busca do pão da fé e do conselho amigo dos pretos velhos. Vovó Benta, no entanto, continuava incorporada em seu aparelhinho, batendo o pé no chão e cantarolando. O cambono-chefe se dirigiu a ela, informando delicadamente que os atendimentos haviam se encerrado, autorizando-a a "subir".
- Salve, camboninho, nega véia sabe que o terreiro esvaziô, mas tô aqui esperando aquela zi fia que tá chegando na portera!
Olhando para a porta, o cambono avistou uma senhora chegando, e, mesmo sem falar nada à preta velha, seus pensamentos reprimiram o tipo de conduta que se refletia na figura daquela mulher. Quando estavam prestes a encerrar o trabalho, ela chegou escondendo o rosto atrás de um xale. "Ainda se fosse alguém decente, mas essa criatura! Prostitui-se nas outras noites e vem até aqui se fazer de santa!", pensava ele.
Vovó Benta captou as ondas de pensamento do cambono e apenas sorriu, pensando sobre como a vida é uma caixinha de surpresas.
- Saravá, zi fia! Como suncê tem passado?
- Minha mãe, minhas noites têm sido um terror. Os pesadelos não me deixam dormir. Durante o dia tenho batido perna atrás de emprego, mas, a senhora sabe, minha fama faz todas as portas se fechem.
- Não desanime, filha. Se você decidiu realmente que quer mudar sua vida, precisará de persistência e fé. Não desista de procurar. Há um lar onde a dor está chegando; lá estão precisando de alguém de coração grande, com paciência e vontade de trabalhar. Nesse tal lugar, enquanto a filha ganha seu pão honestamente com seu trabalho, vai poder ressarcir os erros de um passado que desconhece e do qual fugiu, padecendo até hoje.
- Não quero desistir, mas são muitas as portas que se fecham para mim. Às vezes, penso que não vale a pena mudar de vida.
- A escolha é sua, por isso o Grande Pai deu-nos o livre-arbítrio. No entanto, esta preta velha vai dizer para a filha que, sem subir e descer a montanha, sem atravessar o lodaçal e sem passar pelas águas turbulentas do rio, ninguém chega até a porta da Casa do Pai, a única que não se fecha para nenhum dos filhos. Prova disso é o fel que o próprio Cristo Jesus precisou provar antes de se elevar aos Céus.
- Minha mãezinha, ontem mesmo vim a esta casa me oferecer para limpá-la durante o dia, como forma de começar a fazer caridade, porém me aconselharam a me restringir a vir às sessões de caridade, pois não ficaria bem uma "mulher da vida" limpar a casa dos sagrados orixás.
- Mais uma vez o livre-arbítrio, filha. Jesus recebeu Maria Madalena e permitiu que ungisse seus pés, porque viu seu coração; Ele não se limitou a julgar seus atos. Continue insistindo, filha, mostre que sua intenção é boa, peça uma chance de mostrar seu trabalho.
Abençoando a mulher sofrida, de coração e forças já abatidos pelas noites de insônia dos tantos anos vividos em prostíbulos, Vovó Benta deu a ela um patuá e pediu que o usasse em sua bolsa, acreditando que estaria protegida e amparada por todos os orixás. Despediu-se, quando a corrente mediúnica, apressada, já cantava o ponto de encerramento.
A preta velha, limpando as energias de seu aparelho com um galho de arruda, chorou sentida pela falta de entendimento que alguns filhos ainda apresentam sobre o real significado da caridade. Depois de largá-lo, permaneceu ainda ali com os outros espíritos que haviam prestado serviço naquele templo e que agora, de mãos dadas, cantavam e dançavam ao redor dos médiuns, reequilibrando suas energias com a magia do som e do movimento.
Alheios a todo o benefício que recebiam dos bondosos pretos velhos, alguns médiuns bocejavam, outros recostavam-se na parede, sentindo-se cansados; outros ainda pensavam no programa de televisão que estavam perdendo, graças "àquela senhora" que sempre atrasava o encerramento dos trabalhos.
A semana corria, e os acontecimentos andavam conforme a prescrição de uma força maior que a dos homens. Num entardecer, uma mulher grávida, com fortes dores do parto, tentou chamar o marido, que estava no trabalho, quando a bolsa d'água estourou, iniciando forte sangramento.
Alarmada pelo barulho, a filha adolescente saiu do quarto e, vendo a mãe no chão, desmaiada, saiu para a rua gritando e pedindo socorro. Uma mulher passava por ali, cabisbaixa e desanimada, mas não hesitou em entrar correndo e atender a mulher, cuja criança já ensaiava nascer. Só teve tempo de lavar rapidamente as mãos e pedir à menina que providenciasse toalhas e água quente; fez o parto ali mesmo.
Não se tratava de acaso, pois ela fora adestrada pela vida para realizar partos caseiros; muitos deles, antes da hora. Sabia como agir e salvou a criança, mas, sentindo que a mãe ofegava, ligou para o hospital pedindo socorro. Quando o marido chegou, assustou-se ao ver a prostituta dentro de sua casa, com Um bebê no colo. Os fatos foram relatados, e, correndo para o hospital, deparou-se com a esposa em estado gravíssimo, tendo desencarnado depois de poucas horas.
Enlouquecido, passou a culpar o parto mal-feito, mesmo diante da afirmação médica de que a esposa havia sofrido uma parada cardíaca por problemas de pressão alta não tratados durante a gravidez.
O homem saiu do hospital disposto a achar um culpado. Enfurecido, quando entrou no quarto para expulsar a prostituta, assustou-se ao ver que ao seu lado estava uma preta velha sorridente. Esfregou os olhos e, olhando novamente, viu a mulher entregando-lhe a criança e saindo. Que seria dele?
Os vizinhos movimentaram-se nos primeiros dias, para ajudar a família, mas depois de um mês cada um voltou a cuidar de sua vida. Na gira seguinte, de preto velho, o cambono-chefe ajoelhava-se chorando diante de Vovó Benta, com uma criança nos braços. O que deveria fazer?
- Zi fio, por que tanta tristeza? Esta criança é uma bênção!
- Mas não tem mãe! - exclamava ele choroso.
- Não tem mãe, mas tem avó.
- Não, minha mãe, as duas avós, tanto a materna quanto a paterna, também já desencarnaram.
- Zi fio deve aguardar. Aquela que é a avó do "curumim" está chegando.
- O cambono estremeceu ao ver "aquela mulher"novamente, justamente ali.
- Avó de meu filho?
- O camboninho esquece que foi ela quem o salvou? Se serviu de mãe, poderá servir de avó. Tem idade e experiência para tanto.
- Mas não tem moral!
- Zi fio, essa moral de que fala é um chapéu vistoso que dá imponência quando convém e que serve para esconder a cara quando a vergonha chega. Larga de tanto orgulho e contrata essa filha que tanto precisa de um trabalho para cuidar do filho que ela mesmo fez vir ao mundo.
Naquela noite, durante o sono, o cambono foi levado a outras paragens do mundo astral. Dos quadros que presenciou, foi trazida à sua mente física, pela manhã, uma forte vontade, senão necessidade, de chamar "aquela mulher" para ser babá de seu filho. E assim o fez.
Ao pedir seus documentos para o devido registro, surpreendeu-se com seu verdadeiro nome, pois a conhecia por Madame Zulu, seu nome de guerra.
Aos poucos, foi cultivando simpatia pela mulher, que demonstrava muito carinho pela criança e muito esmero nos trabalhos domésticos. Um dia, resolveu pedir que lhe contasse sua vida, pois estava curioso para saber o que leva uma mulher a se prostituir.
Ela passou então a lhe contar que havia conhecido um rapaz rico que a engravidara, quando ainda era muito jovem. Por impedimento das famílias, não puderam ficar juntos. Durante toda a gravidez fora obrigada a se esconder, e, quando o filho nasceu, sumiram com ele. Sua dor havia sido tão grande que saiu pelo mundo à procura do bebê, sem nunca ter logrado êxito, até que, desanimada e desacreditada, jogou-se naquela casa e lá passou a viver de prazeres ilusórios. Falou de suas decepções, de sua tristeza e da saudade que sentia do filho que mal conhecera.
O coração daquele homem agora disparava, porque algo muito forte gritava dentro dele. Perguntou por datas, nomes, locais; não havia mais dúvidas: era ela. "Aquela mulher" era sua mãe. Entre soluços, jogou-se aos seus pés, contando sua história de abandono e carência materna no orfanato.
Naquela noite, lá no terreiro, um cambono e uma ex-prostituta, reconhecidamente mãe e filho, ajoelhados aos pés da preta velha, choravam emocionados, apresentando, respectivamente, o filho e o neto para que fosse abençoado.
- Camboninho entende agora porque a preta velha ficava esperando até altas horas para que a filha chegasse no terreiro?
Entende porque se diz que "Deus escreve certo por linhas tortas"? Esse pequeno ser que desfruta agora de vosso amor tem uma história também, mas, seja ela qual for, prometam amparálo e amá-lo, tanto quanto forem capazes vossos corações, para que a justiça se cumpra.
Talvez um dia venham a descobrir que, em vida passada, o cambono e sua mãe haviam sido pais inconseqüentes daquele ser que ali renascia e que, por isso, havia se perdido.
Tudo o que mais abominamos faz parte de nós. A vida sempre nos coloca diante de espelhos, os quais, independentemente das máscaras que usarmos, vão sempre refletir nossa verdadeira imagem.
Preta velha já foi, já foi para Aruanda.

Vovó Benta