Tendências
são inclinações, pendores que determinam algumas
características comportamentais da personalidade. Muitas delas foram
adquiridas em várias etapas reencarnatórias e sedimentam o
sistema de valores, com o qual a criatura faz suas escolhas na
rotina da existência.
Listamos
algumas tendências que se apresentam junto aos nossos celeiros
espíritas, remanescentes de fortes condicionamentos psíquicos:
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Atrofiamento do raciocínio
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Supervalorização dos valores institucionais
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Engessamento de conceitos
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Sensação de missionarismo religioso
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Atitude de supremacia da verdade
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Idolatria a seres “superiores”
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Submissão de conveniência a líderes
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Relação de absolvição ou penitência com práticas espíritas
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Desvalorização de si mesmo em razão da condição de pecador
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Condutas puritanas perante a sociedade e seus costumes
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Cultivo de comportamentos moralistas
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Confusão entre pureza exterior e renovação íntima
Com
todo respeito a fraternidade, necessitamos urgentemente ter a coragem
de avaliar com sinceridade as influências “éticas” perniciosas
dessas tendências no quadro de nossas vivências espiritistas.
São reflexos inevitáveis do crescimento evolutivo que ninguém
pode negar, mas daí a aceitálas sem quaisquer esforços de
melhoria, é conivência e pusilanimidade. Tornálas uma
referência religiosa pela qual se deva reconhecer o
verdadeiro seguidor do Espiritismo é uma atitude recheada de
ancestralismo e hipocrisia.
A
comunidade espírita, que tantas benfeitorias tem prestado ao
mundo, carece de uma reavaliação global em sua estrutura
no que tange à noção de comprometimento. Convém que os
líderes mais sensibilizados instiguem a formação da cultura da
franqueza com fraternidade e clareza, no intuito de
estabelecer uma oxigenação na sementeira para obtenção de mais
qualidades nos frutos.
Muitos
companheiros, os quais merecem nossa compreensão, costumam
disseminar a concepção de que tudo deve correr conforme os
acontecimentos, e justificamse com a frase: “se fazendo
assim está dando certo, porque mudar?” Em verdade, o que
deveríamos pensar é: se fazendo assim estamos colhendo algo, então
quanto não colheríamos se fizéssemos melhor, se nos abríssemos às
renovações que a hora reclama?!!
Há
uma acomodação lamentável que precisa ser aferida. A
noção espírita de comprometimento foi acintosamente assaltada
pelas velhas tendências de conseguir o máximo fazendo o mínimo.
É a devoção exterior, a influência marcante da personalidade
impregnada de religiosismo estéril querendo tomar conta da cabeça e
do coração daqueles que estão sendo chamados a novos e
mais altaneiros compromissos, na espiritualização de si mesmo e da
comunidade onde floresceram.
É
assim que vamos notando uma supervalorização das coisas, como a não
adoção de alimentação carnívora, a impropriedade de não
frequentar certos ambientes sociais, a fuga da ação política, a
análise da vida dissociada das ciências e conquistas humanas, a
interminável procura do passe como instrumento de melhoria
espiritual ao longo de anos a fio, não chorar em velórios,
distanciamento da riqueza como se fosse um mal em si mesma,
cenho carregado como sinônimo de responsabilidade, silêncio
tumular nos ambientes espíritas. Se fumar, não é espírita; se
separar matrimonialmente, tem a reencarnação fracassada; se
ingerir alcoólicos, não pode ser considerado alguém em reforma; se
for homossexual, não pode entrar no centro; e assim prosseguem
as idiossincrasias que são estipuladas uma aqui, outras acolá.
Absolutamente
não devemos desprezar o valor de todas essas questões,
quando bem orientadas para o bem senso e a lógica.
Entretanto, nenhuma dessas posturas é referência segura sobre a
qualidade de nossos sentimentos, o que parte do coração. O que sai
do coração e passa pela boca é o critério de validação de
nossa realidade espiritual. Por ele se conhece a verdadeira pureza, a
pureza interior que é determinada pela forma como sentimos a vida
que nos rodeia. E sobre esse assunto só temos condições de avaliar
o que se passa no nosso íntimo, jamais o que “sai” no coração
do outro.
Sem
dúvida alguma a pureza exterior pode ser um ensaio, um
primeiro passo para o ingresso definitivo da Verdade em nosso
coração. Todavia, amigos de ideal, pensemos se não estamos
passando tempo demais na confortável zona do desculpismo,
desejosos de facilitar para a consciência nossa noção sobre o que
é “ser espírita”.
Quem
muito recebeu, muito será pedido.
Em
conclusão, comentamos que há muitos companheiros queridos do nosso
ideário satisfeitos com o fato de apenas evitarem o mal, entretanto,
estejamos alerta para a única referência ética que servirá a cada
um de nós no reino da alma liberta da vida física: “fazer
todo o bem que puder mos no alcance de nossas forças.”
Fora isso, somente trabalhando por uma imensa metamorfose nos
reinos do coração de onde procedem todos os males.
Extraído do livro "Reforma íntima sem martírios", psicografado por Wanderley Oliveira, cáp. 04.