"A alta plasticidade do mundo astralino responde com a força correspondente dos elementos, na mesma intensidade de reação à ação mental de seus habitantes. Criam o caos que, por influxo reorganizativo de Exu, imprime-lhes a decantação de suas negatividades e os empurra para fora de seus infernos pessoais."
Quando você morre, sua consciência entra numa
dimensão sem tempo. O relógio não serve para nada. O que sobrevive e pensa não
é medido e controlado pelo tique-taque dos ponteiros, não fica mais velho com o
nascer do Sol a cada dia. O ser que pensa é imortal, não se atrasa ou se
adianta na criação. Cada indivíduo tem o seu ritmo próprio e a pressa no
aperfeiçoamento é como o carpinteiro que talha com precisão matemática a
madeira, mas a peça final é sem utilidade. Você tem urgência de ser perfeito e
evoluir, faz a caridade ardentemente desejando se "salvar"? Meu caro,
você tá enroscado!
O móvel talhado pode ter sido feito em madeira
que dá cupim e terá que ser refeito. Você renascerá, até a madeira ser boa. Se
todos morressem e tivessem bons pensamentos, não haveria tantos Exus do lado de
cá. A consciência ao se deslocar da cabeça de cada defunto continua
ininterruptamente influenciada pelo pensar, ato inseparável, como a carroça que
não anda sem o cavalo.
A mente profunda e metafísica, na periferia da
percepção do estado ordinário de vigília, arquiteta os tipos de pensamento que
os zumbis ligados às máquinas em rede virtual os têm, percepção ao redor de si
e com isso lidar com o outro, perseguir suas metas, planos e aspirações em
sociedade. Não basta existir. Você não é um animal irracional, ao menos não
deveria ser.
Reflita a respeito! A força das marés faz as
ondas beijarem a areia das praias. O Eu Real, imortal, movimenta as ondas
mentais até a consciência, fazendo que o
pensar tome conta do ser. Os condicionamentos emocionais, os escapes da
personalidade com suas escoras psíquicas disfarçam as intenções do ego,
cristalizadas em medos e recalques alimentadores dos sentimentos negativos,
estabelecem a petrificação dos padrões de condutas recorrentes - o modo de ser
atávico, tal qual o filhote de pardal será sempre um pardalzinho.
Preste bem atenção! O que acabei de dizer vai
plasmar a forma do local em que a consciência do novo cadáver acordará deste
lado.
O que não foi realizado na Terra repercutirá
aqui. Meu caro, você é o que é, simples assim, sem tirar nem por, seja onde
estiver no eterno presente.
Por isso a metáfora da pedra no provérbio, Exu
matou um pássaro ontem, com uma pedra que atirou hoje. Entendeu? Caiu a ficha
na cachola?
As primeiras impressões, quando você acordar
aqui, estarão fortemente relacionadas à desintegração da energia vital
acumulada durante sua estada no corpo físico emprestado. Sim, um empréstimo! Perceba que ninguém é
proprietário de coisa alguma na Terra, nem dos carcomidos ossos nos cemitérios.
Que tipo de vibração você atrai para si?
Qual estrutura energética prepondera no seu corpo
etérico?
A resposta é o seu endereço do lado de cá.
A maioria é fortemente apegada às coisas
materiais, aos gozos e deleites das sensações. Naturalmente, o que o espírito
sente nas entranhas quando ocupa o físico vicia-o o do que lado de cá. Falta lhe a fumaça quentinha do
cigarro consolador de suas carências, o drinque amigo que acalma as ansiedades,
a comida farta que lhe apura o paladar e sacia a fome animalesca. A palavra
apimentada, o torpor das piadas risonhas, a ganância, o reconhecimento, as
vitórias, os troféus sociais... Os desejos não satisfeitos, pela ausência do
corpo físico, multiplicam-se por cem nas entranhas sensíveis do corpo astral
descarnado.
O período de liberação das sensações do antigo
corpo físico pode se prolongar ao infinito. Não existe urgência, não há pressa,
não se atrasa ou se adianta aqui. O devir acompanha o espírito sempre, sempre,
sempre. O tempo é o tempo do agora, do que cada um se tornar. O que virá de
encontro a si, bem-aventurança ou infortúnio, mero reflexo do que se é, nada
mais.
Ao despertar, a consciência será atraída para as
formas astrais afins com o seu modo de pensar, ser e sentir. A localização
depende de cada um, assim como as moscas são atraídas pelas fezes e os
beija-flores pelo néctar. Os apegos, gostos, aversões e simpatias, vibrantes
estados d'alma, petrificados como pedregulhos na montanha do ego, serão a força
motriz que movimentarão as moléculas do éter astralino e moldarão a nova casa
da existência, assim como o pintor que dá a última pincelada na tela acabada.
Nada se perde e tudo são afinidades, semelhança e atração no Plano Astral.
Dado que os senhores aí da Terra, em sua maioria,
saem dos paletós de carne em condições precárias, os primeiros estágios após a
morte são de extremo sofrer. Refiro-me ao senso comum dos homens, sem querer
generalizar. Observe que numa mesma ninhada, haverá filhotes de pássaro que
voarão mais fácil que outros. Nem todos sobreviverão. Ter as asas cheias de
penas não garante a sobrevivência, e as asas da imaginação e vontade da mente
podem "matar" o recém-nascido nestas bandas, aprisionando-o numa
concha astral que ele mesmo criou. O passarinho volta para a gaiola. Não sabe
voar! Falo por símbolos e metáforas em alguns momentos, para me fazer entender
melhor. As formas pensamentos agem como ondas selvagens. Engolem o incauto que caiu
do barquinho da frágil existência humana sem salva-vidas.
Os Senhores Regentes dos elementos planetários,
no aspecto sobrenatural de seus raios de ação, estão sob irradiação na cabeça
de todos nós, em potente influxo organizador das vidas que estagiam não só
aqui, mas em todo lugar, sejam elas quais forem e onde estiverem. Como espelhos
que refletem nosso ser interno, indivíduos afogueados, de temperamentos
quentes, irascíveis e destemidos impulsivos, controladores e dominantes, serão
cercados por forças instintivas etéricas do fogo. Ficarão em locais áridos,
secos, tórridos, por vezes entre brasas e fumaças nauseabundas. A palha seca
incendeia rapidamente, mas a lenha não. A condensação do éter ígneo age
decantando o psiquismo das mentes crepitantes, na exata necessidade particular.
Quando o individuo usou demais o seu poder
mental, pelo intelectualismo aviltado na magia em proveito próprio, dominando
outros pelo conhecimento de mandalas e invocações, explorando os menos
favorecidos, espíritos serviçais e os elementais da natureza, o poder eólico
dos Orixás movimentará ventanias os , raios
e trovões, em conformidade ao
novo morador, potente mago de outrora. Faço alerta, cuidado com as ditas
apostilas de magia. Não se compra um manual para se tornar um mago. Os velhos e
adestrados Exus do lado de cá, são calejados em saber que toda a magia superior
tenciona beneficiar o coletivo. Mentes egoístas viciadas em ritos magísticos,
adquiridos em receitas de bolo, condicionam os elementos e se vinculam às suas
forças instintivas etéricas. Descontroladas não lhes desgrudarão das auras após
a morte física.
Tema controverso: a banalização dos saberes que
deveriam ser transmitidos em ritos de iniciação por dentro dos terreiros
umbandistas. Não justifica dizer que certos "pais de santo" não
ensinam(a maioria ensina no tempo certo) para "burlarmos" uma ética e
tradição com o fim de "democratizarmos" estes ensinamentos sem
quaisquer pré-requisitos dos interessados, qual não seja a paga R$ dos mesmos.
Existe uma iniciativa de se desconstruir o pertencimento aos terreiros e
valorizar as pessoas que "ensinam" nestas ditas apostilas, uma clara
exaltação ao ego individual e não ao senso coletivo, às comunidades.
Se Exu ficou dezesseis anos na Casa de Oxalá para
ser consagrado Guardião da Encruzilhada em frente à sua morada, como podem as
humanas criaturas serem tão impacientes?
Querem tudo rápido, de preferência sem nenhum
esforço. São tantas as solicitações e ritos apostilados que, se verdadeiramente
Exu fosse evocado, faltaria axé, assim como falta gás no fogão para atender
muitas bocas esfomeadas. Feito o alerta, voltemos para o nosso tema.
Pessoas demasiadamente materialistas, apegadas
aos bens terrenos, ambiciosas e avarentas, exploradoras de empregados e sempre
levando vantagens mercantis em tudo que fazem, acumuladoras de riquezas e
poupanças, ativarão a força telúrica e assim decantarão o hipnotismo às posses
das moedas, forjando para si um mangue de lama pútrida, com caranguejos a
pinçar os sentidos entorpecidos para a dor alheia. Há que se aguardar o tempo
certo para as sementes da humildade e do perdão germinarem, tal qual o caroço
do abacate enterrado brota em busca da luz solar.
Os lamurientos e vítimas do destino, que viveram
reclamando e ansiando por sentirem dó de si mesmos, mentes viciadas na
autocomiseração manipuladora, estarão em locais úmidos, chuvosos, gélidos e
preenchidos de neblina, pisando em poças de águas rasas que emitem ecos de
vozes chorosas dissimuladoras, vindas do alto-falante da consciência dos próprios
novos mortos, que caminham penosos. Trouxemos algumas narrativas, reais, para
demonstrar que nada se perde do lado de cá. As humanas criaturas esquecem ou
ignoram completamente que são potencialmente criadoras.
A alta plasticidade do mundo astralino responde
com a força correspondente dos elementos, na mesma intensidade de reação à ação
mental dos seus habitantes. Criam o caos que, por influxo reorganizativo de
Exu, imprime-lhes a decantação das suas negatividades e os empurra para fora de
seus infernos pessoais.
Feita a purificação purgatorial, resta a
retificação dos destinos. Ah tá! Isso é outra história. Continuem lendo os
próximos capítulos, que não fazem parte de uma novela fantasiosa ou romance
ficcional. Expomos nesta obra, como punção que extirpa o pus da ferida, um
recorte da vida real, sem paixões que aprisionam ou dogmas ilusórios, tão
comuns na breve estada de vocês no palco do teatro pueril das fantasias
terrenas.
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